segunda-feira, 29 de junho de 2009

O MAIS IMPORTANTE QUE FIZ NA VIDA!


Numa conversa com colegas, perguntaram-me o que tinha de mais importante na vida feito até hoje.
Não respondi, apenas sorri, retirei-me e recordei!

Eu estava com um amigo meu num bar, estávamos a festejar o nascimento naquela tarde do seu primeiro filho, riamos, abraçávamo-nos, enfim a felicidade estava perfeita.
O pai do meu amigo entrou e informou que o bebé estava com problemas respiratórios graves e que tinha sido transferido para os cuidados intensivos.
O meu amigo saiu de imediato com pai para o hospital, eu fiquei sem saber o que devia fazer, deveria ir também para o hospital!? De que serviria a minha presença, certamente que o bebé estava ser acompanhado por médicos e enfermeiros, que poderia eu fazer, dar apoio moral? As famílias de ambos eram numerosas e unidas, certamente iam lá estar imensos familiares a apoiar, possivelmente eu só iria atrapalhar.
Decidi que mais tarde iria então ao hospital, quando aí reparei que o carro do meu amigo estava com o vidro aberto e com as chaves na ignição, fechei o carro e resolvi ir levar-lhe as chaves ao hospital.
Como tinha imaginado, estavam lá imensos familiares, entrei e fiquei junto a porta sem saber o que fazer, não demorou muito tempo e um medico apareceu e em voz baixa informou o casal do falecimento do bebé. Aqueles instantes em que o casal ficou abraçado senti-os como um eternidade, os familiares rodeavam o casal num silêncio de dor, o medico perguntou se queriam ficar os instantes a sós com o filho, os meus amigos encaminharam-se resignadamente para a porta, ao me ver aquela mãe abraçou-me chorando, o meu amigo também se refugiou nos meus braços dizendo: MUITO OBRIGADO POR ESTARES CÁ!

Durante o resto da noite, fiquei em silêncio na sala de espera, vendo através dum vidro o meu amigo e a esposa segurando o Bebé nos braços, a despedirem-se do filho.

Isto foi o mais importante que fiz na minha vida!

Três lições ficaram deste trágico acontecimento:

PRIMEIRA: O mais importante que fiz na vida aconteceu quando nada de nada podia fazer, nada do que tinha aprendido da vida, nem toda a racionalidade que utilizei para analisar a situação e decidir o que deveria fazer servia para aquela circunstancia, duas pessoas receberam um tragédia e eu nada podia fazer para remediar.
A única coisa que podia fazer era esperar e acompanhar.

SEGUNDA: Estou convicto que o que fiz de mais importante na minha vida esteve quase para não acontecer, isto pelo que tinha aprendido na vida, os conceitos, o politicamente correcto, todas as racionalidades que usava no dia a dia, ao aprender a pensar quase desaprendi de sentir.
Hoje não tenho qualquer dúvida que devia logo ter saltado para dentro do carro, sem qualquer vacilação em acompanhar o meu amigo ao hospital.

TERCEIRA: Aprendi que a vida pode mudar num instante, intelectualmente todos o sabemos, porem, acreditamos que “azares” ou/e infortúnios só podem acontecer aos outros.
Fazemos planos e criamos expectativas imaginando como algo real e certo, como se fosse possível não existir espaço para outros acontecimentos.
Quando acordamos de manhã, nem sequer nos passa pela mente que perder o emprego, sofrer de uma patologia ou cruzarmo-nos com um condutor alcoolizado pode mudar a nossa vida para sempre, obvio que não se deve viver em função disso, mas será necessário esperar que seja uma tragédia a mudar a nossa vida.
Desde aquele dia procuro o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, aprendi que nenhum emprego (por mais fantástico que seja) compense perder umas ferias, romper uma relação, aprendi que o mais importante não é ganhar dinheiro, nem ascensão social.

Uma das coisas mais importantes da vida é ter tempo para cultivar a amizade!

Fiquem bem

João Gonçalves

ICC- Dedico esta ficção baseada em factos reais ao meu amigo Luís que não tenho acompanhado como deveria!

1 comentário:

sou disse...

Olá João,

Lindo, muito lindo, o teu texto, cheio de humildade, não foi decerto o que mais importante fizeste na vida, mas foi o que mais te fez sentir o real, e tiveste noção do que é realmente importante cultivar. Nesses momentos observamos o quanto o nosso cérebro é fantasioso e nos engana com as suas ilusões. Acordamos da anestesia que nos impomos para não enfrentarmos o quanto somos frágeis finitos e supérfluos perante a criação. Emocionei-me a ler-te. Um grande e forte abraço.