Usualmente escrevo, escrevo quase sempre sobre o que me toca no momento, quase sempre escrevo para mim e simplesmente partilho com outros, quase sempre......quase sempre.O mundo anda as voltas com a questão do aborto, ambas as partes tem argumentos “sólidos” e alguns mais validos do que outros, enfim todos querem ter razão e querem-na impor a outros, claro que é “sempre” pelo bem dos “outros”, tenho desde a algum (muito tempo) dito que ninguém consegue educar os filhos, apenas nós pais estamos cá para gerir as crises!
Bem, gostaria de desenvolver este assunto, possivelmente o primeiro passo seria deixar de denominar os filhos por meu ou minha e sim dizer que sou pai ou mãe dele ou dela, o sentido de propriedade é algo que choca na maioria dos casos com amor, amor é dar, o “vais para casa mesmo por eu sou teu pai/mãe” também não ajuda em nada, ninguém deve respeitar seja quem for por essa pessoa ter um cargo, esse respeito deve ser conquistado e não imposto ou inato.
Também algo que digo a muito tempo é que nós pais fazemos muito mal aos nossos filhos por bem, obvio que tem a ver com sermos pessoas desequilibradas com uma arvore genealógica também ela desequilibrada, claro que tudo isto não é referente ao amor, mas sim a emoção, algo que transpõem totalmente as fronteiras da racionalidade, Osho disse que os filhos não deveriam ser criados pelos pais, até certo ponto todos nós até concordamos, isto é, qualquer um de nós em algum momento da vida teve a certeza peremptória em que se nos deixassem resolveríamos algo num filho doutro (mesmo sendo incapazes de resolver nos nossos), temos que possivelmente duma forma racional concordar com Osho, o amor paterno é quase sempre corrupto.
Com algum humor é dito (e muito bem) que as camisolas de gola alta servem para as mães vestirem aos filhos quando elas tem frio, claro que todos nós devemos ser o centro do universo, possivelmente respeitar as orbitas dos outros também será bem importante, pois é isso mesmo, falta de respeito, mas não é falta de respeito dos mais jovens para com os menos jovens, é precisamente o inverso, somos nós os “adultos” que não respeitamos os mais jovens, mas claro, adoramos repetir que agora não existe respeito e mais uma balelas que antigamente “coise e tal”, não somos nós pais que mentimos repetidamente aos nossos filhos, que lhes destruímos as expectativas que lhes colamos na véspera, que lhes prometemos (seja o que for) para os manipular no momento (portarem-se bem dentro dos nossos conceitos) para depois simplesmente esquecer, não somos nós que gostamos de os fazer passar por macaquinhos bem amestrados (vá dá um beijo a tia “que é aquela velha chata que tem pelos no queixo e cheira mal da boca”), que nos encantam quando se portam como pequenos adultos e deixam os pais orgulhosos com os elogios ocos dos outros, claro que lhes estão a destruir a criatividade, mas que importa isso, muitos de nós só entendem que algo está errado quando a situação se torna insustentável, pois aí voltam-se para a desresponsabilidade, a culpa será dos colegas, da sociedade, dos amigos, etccccc nunca é nossa, o véu da paternidade é realmente algo terrível.As crianças não lhes fica gravado os factos reais, o fica gravado é a sua interpretação, elas interpretam e registam até as nossas pequenas expressões corporais, quanto mais as palavras, duas pequena “estórias” reais; Uma apresentadora americana foi questionada pelo filho de 6 anos por que era que na TV era sempre tão simpática e em casa não, a que ela respondeu que era o trabalho dela e era paga para ser simpática, o filho saiu disparado e voltou com o mealheiro dizendo, mãe, eu também posso pagar!O outra, estava eu com a mãe das minhas filhas na sala conversando sobre algumas dificuldades financeiras quando a minha filha mais velhas (8 anos na altura) entrou a sala a chorar com 6 ou 7 mil escudos (tinha esvaziado o mealheiro) dizendo que nos dava aquele dinheiro e assim o problema ficava resolvido! Claro que o resto podem imaginar, é pessoal!Nós nem estávamos discutindo, até já tínhamos estado em situações bem piores, era apenas uma conversa entre dois adultos a tentarem gerir o orçamento familiar da forma mais atomizada possível, isto são os factos, a interpretação e o consequente registo da minha filha foi outro totalmente diferente.
Um ser quando nasce (inclusivo antes) é uma esponja em busca de informação para somar a alguma que já tem com ele, até sensivelmente a idade de sete anos temos como “educadores” algum crédito da parte deles (a escala, se alguém com três metros e meio de altura chegar junto a mim e me disser algo com um tom ameaçador, eu vou certamente me sentir ameaçado!), depois esse crédito é reiterado ou retirado, quantas vezes despejamos em cima deles frustrações com as quais eles nada tem, apenas por que estão ali a mão de semear, batemos neles e eles continuam a nos amar, apenas e simplesmente nalguns casos por que para eles quem bate também é a única fonte de amor que tem, embora corrompida, é a única, noutros por que nos amam mais que nós a eles.O contra-senso é que a maioria de nos adquire características “iguais” as que detestávamos nos nossos pais.
Dificilmente temos o bom senso de quando um criança está doente não a mimar em demasia, se a criança está doente, tudo lhe é permitido, dá-se-lhe muita atenção e claro é um convite a elas ficarem mesmo doentes em situações mais complicadas para elas, quem é que não sabe de uma criança que tinha febre e diarreia num determinado infantaria e que a situação ficou sanada com mudança para outro infantário, quantos médicos ou pais não cometeram já o “crime” de deixarem uma criança ouvir que não devia ser contrariada, são seres puros e a cada lustro nascem mais inteligente e intuitivas, detestam a mentira, obvio quando ela é praticada fluentemente pelos que a rodeiam assimilam-na no formato de comportamento adquirido, não temos tempo para brincar e rebolar com eles, nada que um presente da moda não resolva, eles pedem verdadeiramente tão pouco, e mesmo esse pouco lhe negamos, claro quando alguém me nega pouco eu começo a pedir muito, apenas assim conseguirei qualquer coisa, não era coisas materiais, mas…………….. Já agora, pode ser, melhor que nada!
Basicamente a educação que damos aos filhos será a grosso modo mais ou menos traumas, incutimos medos, claro que o medo é útil para a nossa preservação, mas não é necessário dizer para não por a cabeça fora da janela por um menino fez isso e veio um carro e ele ficou sem cabeça, também existe nos pais (homens) algo “inconfessável” o medo que os filhos se tornem gay, então a formula é fácil chamar a atenção de forma positiva e “marota” quando os filhos brincam com meninas e vigiar e reprovar quaisquer comportamento mais associado as meninas dentro dos seus entendimentos, em casos de menos conhecimento existe mesmo algum apelo a violência que é confundido com virilidade, claro se o filho se revela gay a culpa foi da mãe dado ele pai ter feito tudo ao seu alcanço, pois, sempre se arranja unas moedas para comprar um jornal desportivo, mas claro comprar uns livritos com informação mais profunda em que poderia ficar com o conhecimento que alguém pode ser heterossexual ou gay como pode ter olhos desta ou daquela cor, claro que saber quem é que o Benfica vai contratar é muito mais importante!
Não quero de forma nenhuma fazer passar uma imagem que somos péssimos pais, no fundo somos pais furto das crianças que nos deixaram ser, das coisa com que lidamos, dos traumas que temos carregado connosco, creio que estamos demasiado desatentos e tanto ou quanto egoístas, podemos melhorar, temos que melhorar, o pai ou a mãe perfeito será sem duvida uma utopia, mas creio que todos nós podemos passar a ser melhores pais, podemos ajudar a crescer um geração mais equilibrada do que a nossa e por ai fora, pode ser só uma gota melhor, como disse alguém que agora não me recordo disse algo mais ou menos assim, “o meu trabalho pode ser só uma gota no oceano, mas sem essa gota o oceano era uma gota mais baixo.”
Fiquem bem
João Gonçalves 09-07-2008
ICC- Enquanto os nosso filhos forem mais importantes que os filhos dos outros, estaremos simplesmente andando em círculos.
8 comentários:
João estive a ler atentamente o teu texto, e tenho perguntas a fazer? Quando dizes que nós não educamos, apenas gerimos as crises dos nossos filhos, fico-me a perguntar, mas quem gere quem? Somos nós que gerimos as crises deles, ou será que são eles que gerem as nossas?
Depois pergunto-me, o que é educar? será sinónimo de treinar, domesticar os pequenos "animaizinhos"? Passaremos nós a seres humanos só porque aprendemos a fazer algumas habilidades? Não me parece, mesmo com tantas habilidades aprendidas, ainda não nos comportamos como seres humanos, então fica a pergunta? Pode um cego ensinar o caminho a outro cego, ou apenas guiá-lo tacteando com a bengala pelos caminhos que aprendeu, pois não conhece nem vê outros?
Continuando, dizes tu que não deveriamos chamar nossos os filhos, apesar de eles nascerem dentro de nós, no caso das mulheres, pois possivelmente um homem, não pensa como uma mulher, eles depositam a semente, nós fazêmo-la germinar e damos-lhe alimento, depois é expelido ou retirado de dentro de nós, como se de uma excreção se tratasse, não querendo tirar a poesia da maternidade, mas apenas olhar para a imagem, claro que o que sai de nós é nosso, mas depois de sair passa a não pertencer-nos, sendo que passa a pertencer ao meio,mas a sensação de que são nossos, sangue do nosso sangue, carne da nossa carne, continua porque amor também é dar e receber,e nós alimentamo-los,e por sua vez, eles preeenchem as nossas carências afectivas, criar é amor, e o amor como o conhecemos traz aquele sentimento de carinho e de propriedade, não sei se é incorrecto sentir isso, mas até quando nós pintamos um quadro e o damos a alguém, ou o vendemos, fica aquela saudade de rever o que foi gerado por nós com amor. Um filho é sempre um ser único e representa uma obra de arte, a educação devia ser nesse sentido, educar com o sentido de saber que, aquele ser é único, uma obra inédita e irrepetível, ainda que semelhante. Não há a possibilidade de fazer manualmente duas obras rigorosamente iguais, não há possibilidade de educar os filhos da mesma forma, as pessoas não são iguais, então amor passa por respeitar o filho, logo se tivermos essa postura, seremos também respeitados, o respeito não se impõe dá-se e recebe-se. Somos o que somos, mais o que foram todos os nossos antepassados, isso deveria inspirar-nos um profundo respeito e não ser olhado como um elemento desiquilibrador, mas aglutinante e enriquecedor.
O amor paterno é corrupto, não sei qual o contexto em que Osho diz isso, mas o amor é manipulador, como são todas as nossas relações, só se vive em paz uns com os outros pela manipulação, é uma reflexão que venho fazendo há algum tempo, por isso concordo com Osho, mesmo não sabendo o que ele quer dizer com isso.
Gostei de ler a tua reflexão, penso da mesma maneira do que tu e procuro pensar nos porquês de as coisas serem assim nos moldes realistas que apresentas. Já tenho lido teses de autores qe defendem que nós somos pais na altura certa, mas educadores na altura errada, concordo absolutamente com eles, ainda mais na nossa cultura ocidental, segundo esses autores, os filhos deveriam ser educados pelos seus avós, ou pela geração destes, pois a imaturidade dos pais ainda não lhes permite ser educadores, porque estão ainda em aprendizado e lutando pelas suas realizações pessoais.
Voltando um pouco atrás, sensibilizou-me o gesto da tua filha e fez-me lembrar de mim, com seis, sete, oito anos, eu era apaixonada pelo mundo fantástico das fadas, devorava as histórias dos principes, das fadas, das princesas, e não me cansava de ouvir sempre as mesmas histórias, então sempre que ouvia em casa, queixarem-se de dinheiro, eu não tinha mealheiro, ficava a olhar e dizia para mim mesma, para não me acharem idiota, com carinho e muita pena dela: Se eu fosse uma fada, com a minha varinha de condão, transformava a minha mãe num molho de notas muito grande! (risos)
Abraços.
Olá, estou um pouco ocupado, mas assim que me for possivel vou responder, peço desculpa pelo facto
fiquem bem
Olá gente que lê e pensa
Bem, dando mais um pouco naquilo que penso sobre o assunto!
Sobre as crises, nós fazemos por gerir as deles e quando somos atentos vamos aprendendo pelo caminho, quando não o somos, a repetição está assegurada.
Sobre o educar, pois ……..pois, não serei sem duvida referencia, vou fazendo por navegar nas aguas revoltas da educação, vou apenas contar um pequena historia que aconteceu comigo: estava numa praia com as minhas filhas e uma sobrinha (Lara) da mesma idade da Raquel (filha mais velha), elas as duas queriam dar uma volta pela praia, eu alertei para fixarem o chapéu de sol para não se perderem (praia grande e muito cheia), elas saíram e eu a distancia e subtilmente ia vigiando, andaram e andaram, depois voltaram para trás, quando se iam aproximando do chapéu de sol deduzi pela expressão corporal que estavam relativamente perdidas, fui até ao chapéu e fechei-o, elas passaram e não o viram, claro, continuaram (fui sempre seguindo-as a distancia), lá bem para a frente, voltaram para traz, o andar delas já era bem mais rápido, estavam mesmo perdidas, rapidamente fui para a direcção do chapéu e sentei-me na areia perto da agua (era nessa zona que elas caminhavam), pelo canto do olho vi-as aproximarem-se, assim que me viram correram para mim, Olá pai, estás aqui ao pé da agua (disse a Raquel com uma expressão de alivio), obvio que disse que sim e as coisas acabaram assim, ela não sabe que eu estive sempre a vigiar, possivelmente só saberá se ler isto ou se eu lhe contar (um dia quando ela for mãe), vejo isso como um formado educativo, terem as suas próprias experiências duma forma controlada, claro que até determinado ponto, outras experiência terá que as ter doutra forma.
Outro formato (que já fiz as três filhas) foi traumatizar pela positiva, eu fumo (pois), todas elas fizeram o mesmo (por volta dos quatro anos), pegarem nos cigarros e fumar com eles apagados, eu perguntei se queriam fumar, a resposta foi sim, se queriam que eu ensinasse, a resposta foi sim, encostei a chama do isqueiro e disse-lhes para inspirarem profundamente, obvio, o resultado foi tosse, muita tosse, vómitos e até agora repugnância pelo cigarro, foi positivo, foi negativo, não sei, apenas fiz que senti o certo, possivelmente por eu e alguns amigos de infância termos sido ameaçados pelos pais que nos fariam engolir os cigarro se nos apanhassem a fumar (coisa que não resultou).
Sobre a cego, se ele tiver a humildade de dizer que só conhece aquele caminho mas que possivelmente deve existir outros, sim, aí está a educar.
Sobre o amor dos progenitores ser corrupto, será assim, os pais são donos duma grande industria, centenas de famílias dependem deles, o único filho é do pior que pode existir, vil, cruel, um violador, um assassino, etc… (as causas de ser assim ficam para outra vez), mas os progenitores embora sabendo que ele vai arruinar a vida de centenas de pessoas, vão lhe deixar a industria em testamento, para mim, isto é amor corrupto, é como está a frase (que também digo a muito tempo), a mãe diz: pois foi, o meu filho matou um homem, mas coitadinho, ele tinha-se levantado tão mal disposto nesse dia!
Fiquem bem
ICC – pois, varinha de condão, pois, também quero uma! ehehehehehhe
Pois é, tens razão, quando não somos atentos é muito interessante porque não sabemos quem é quem. Achei muito interessante o que fizeste em relação às meninas, mas ao fechares o chapéu tiraste-lhes as referências, não sei que espécie de trauma querias criar, que se podem perder, e a confiança na memória da sua mente,com o chapéu fechado,passam a desconfiar até da sua propria mente. Pois se tiver a humildade de dizer não sei,estamos a aprender juntos, dizes tu, mas os pais raramente são humildes em relação aos seus pimpolhos,raramente querem ver as coisas pelos olhos deles, querem é o contrário, que eles vejam a vida ouvindo as palavras que eles dizem e sendo cegos para os exemplos que eles dão. Caramba isso que comentas sobre amor corrupto, esse exemplo que tu dás, nem é corrupção por amor, é inconsciência total, pais assim nunca poderão criar outra coisa do que filhos insconscientes.
Um abraço.
Olá
Bem, relativamente ao “fechar do chapéu” foi no sentido de dificultar a “tarefa” delas, nunca poderei afirmar que fiz o mais correcto, mas também não creio que fiz o menos correcto, elas não entraram em pânico mas estavam sim era apreensivas.
Apenas fiz o que fiz, nem mais, nem menos!
Fica bem
Sim, o mundo relacional nunca poderá ser igual porque cada um tem horizontes diferentes e modos diferentes de chegar aos seus horizontes pessoais. Quando dizes: "Apenas fiz o que fiz, nem mais, nem menos!" Fizeste lembrar-me um facto verídico que me contaram. Eram dois irmãos com diferença de dois anos, como quaisqueres garotos, gostavam de passear em cima de muros. Então o pai deles um dia verificando que não os podia dissuadir de treparem e caminhar em cima do muro, Disse-lhes: Filhos, dêm as mãos e atirem-se daí do muro que o pai segura-vos e eles acharam uma brincadeira bastante interessante,e atiraram-se. No momento em que caiam o pai desviou-se e eles cairam no chão e magoram-se bem. Então o pai disse: Isto é uma lição para nunca confiarem num ser humano, nem nos vossos pais. Cada um com as suas coisas, eu por mim fiquei chocada com esta lição, mas os pequenos em questão nunca mais se esqueceram, e um deles transmitiu-me esta história, para exemplificar o quanto era sábio o seu pai.
Abraços.
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