domingo, 26 de outubro de 2008

As crianças adultas que nós somos


Será que alguém concorda comigo?

As crianças não querem “algo”, as crianças necessitam de “algo”, pode ser momentâneo ou não, todas elas querem ou gostariam num formato inconsciente de mudar os pais e acalentam uma falsa esperança que o podem fazer, algo que as irá acompanhar para o resto das suas vidas.
Não vejo outro motivo que não esse (lá por eu não ver nada quer dizer) para se ter relacionamentos adultos que basicamente e num formato inconsciente ajudam a recriar a nossa infância, isto numa vã tentativa de fazer o que não foi possível fazer em criança.

Eu sou um pai ausente, será que as minhas três filhas (ou alguma delas) irão “escolher” como companheiros pessoas com características como as minhas (continuo a falar do inconsciente), também na vã tentativa de me resgatarem?

Creio que até agora apenas se tem falado sobre a procura dum pai ou duma mãe quando num relacionalmente existe uma diferencia de idades relativamente grande, não creio que a questão da idade seja a principal, apenas torna mais visível algo que é muito maior, algo que a sociedade se recusa em aceitar, somos frutos da infância que tivemos, não digo isto num formato de desresponsabilização pelo que somos hoje mas sim no sentido de se remexer na nossa infância e retirar os nossos pais do altar, ver as situações de forma objectiva é importante, pessoalmente sempre senti que tive uma infância feliz, depois vendo melhor, não me consigo recordar de brincar com ao meus pais, não me recordo de carinho, recordo-me de ouvir que nunca me faltou nada, isto é comida, roupa e cama para dormir (claro que tive muitas mais coisas materiais), mas afecto não me recordo de ter, não estou de forma nenhuma a queixar-me, apenas a pensar sobre o assunto.
Isto leva a outra questão, não estarei a fazer o mesmo, estando distante para que não lhes falte nada materialmente não estarei condicionar o futuro delas? Faço por quando estou presente, estar mesmo presente, enfim, ignorância dá mais tranquilidade, prefiro estar consciente do que faço, mesmo quando isso me trás duvidas existenciais!

Fiquem bem

12 comentários:

Anónimo disse...

Que pai babado! (risos)São muito bonitas as tuas filhinhas.Parabéns. Dizem que sim, que para o casamento ou união, levamos desejos inconscientes e sentimentos mal resolvidos da nossa infância, e que creditamos exigências no companheiro ou companheira, sem saber que o fazemos, por isso o contentamento descontente o encanto e o desencanto, aquela relação ambivalente que existe em todas as uniões depois de passar a paixão. Aí está uma coisa que não podes pensar, pois as expectativas de cada tua filha em relação ao companheiro será diferente, tenhas tu sido pai ausente ou presente, depende da leitura que cada uma delas fará. Penso que as crianças esperam dos pais uma coisa,que os façam sentirem-se importantes e amados incondicionalmente, protegidos, orientados e estimulados. É isso que orienta o seu desenvolvimento harmonioso e as liberta de neuroses e traumas e sofrimentos desnecessários. As crianças são mais sábias do que quando se tornam adultas, por isso se houver estes requisitos acredito que o que quer que façamos, porque não nos é possivel fazer de outro modo, não as prejudica a respeito das suas relações futuras.

Abraços.

Carteiro disse...

Concordo, apenas uma questão me ocorre, quantas crianças (são ou foram) se sentem importantes, amados incondicionalmente, protegidos, orientados e estimulados?

Dificilmente uma mãe dirá que não faz isso tudo pelos filhos, mas será que o faz mesmo, possivelmente será mais fácil perguntar aos adultos como se sentiram quando eram crianças, ai, como disse, se conseguirmos ser isentos é que realmente poderemos fazer uma pequena ideia das dificuldades, realmente as crianças são sabias, por isso mesmo é que tentam mudar os pais, isso é algo que se irá notar cada vez mais num futuro muito próximo, uma “usual” separação dum casal deixa “sempre” um falso sentimento de alguma culpabilidade nas crianças.

Não quero de forma nenhuma traçar um quadro negro, mas não será a realidade actual da nossa sociedade fruto das crianças que nos deixaram ser.

No presente criamos o futuro e o nosso presente vem do nosso passado!

Fiquem bem

Anónimo disse...

Eu entendo o teu ponto de vista se estivermos a falar do quanto nos descuidámos com as crianças, deixámo-las entregues à sua sorte, e de figuras autoritárias e frias passámos a amigos do tu e lá, isso parece que não está a conduzir a bons resultados. Os educadores passaram a ser a televisão, e não sei se será boa a rebelião a que estamos a assistir.

Abraços

Anónimo disse...

Mudar os pais como? O que queres dizer com isso? Algumas de nós fazemos tudo o que sabemos, não tudo o que podemos, são coisas diferentes, não se pode generalizar, porque há pessoas que não estão preparadas para ser pais, não têm a minima vocação. A psicologia explica que as crianças são tão amadas quanto os pais se amam a si mesmos, percebes? Se não se amam, não se sabem proteger, não se perdoam, podem amar incondicionalmente?

Abraços

Carteiro disse...

Ok, mas então por que é que esses pais não se amam? É a “estória” da pescadinha com rabo na boca, algo (muito) falhou na infância deles, ai, desmontar a infância pode ser uma solução, como eram os pais, eram distantes, críticos, violentos, confusos, carinhosos, etc.

Reafirmo, as experiências que tivemos em criança fez os adultos que temos, a sociedade não quer de forma nenhuma aceitar que grande parte das famílias são disfuncionais, os motivos são variados, no tempo dos nossos pais a falta de informação era uma causa enorme, da mesma forma que não existe formação para se viver com outra pessoa também não existe formação para se “criar” os filhos, dicas daqui, livros dali (alguns até totalmente opostos), no meu tempo as crianças (principalmente os machos), se não fosse fome, fralda suja ou doentes deviam se deixar chorar no berço para no futuro terem um carácter forte (barbaridade hoje em dia), deviam se deitar assim ou assado, etc…………………………

Amar é respeitar e os pais não respeitam os filhos (a maioria), não conseguimos ser coerentes, confundimo-los com palavras num sentido e acções no outro, alem disso existe um sistema de bloqueio de determinados acontecimentos na infância (também nos adultos) para permitir que ela consiga ultrapassar o acontecimento, a informação fica lá, fica bloqueada mas não é inocula.

Usualmente as pessoas “normais” são as que tem a memória bloqueada relativamente aos abusos que sofreram (todas nos sofremos abusos) na infância, claro, isso não afecta duma forma directa, aquela velha máxima, o que não sabes não te pode magoar, errado, muito errado, é como ter um vírus “maléfico” e que se vai contagiando sem se saber, muitos dos traumas que hoje em dia está na moda associar a vidas passadas não passam de traumas de infância, medo do escuro, medo de andar de elevador, medo do medo, etc….

Muitos “algos” ficam registados no nosso inconsciente, por vezes um cheiro nos trás pânico, mas nem sabemos por quê, um formato dum quarto, determinados sons, muita coisa, muita mesmo.

Eu necessitei de voltar a minha infância (se é que alguma vez dela saí! Eheheheeh) para descortinar melhor as coisas, entender que quando a minha mãe me batia, algumas vezes era porque não sabia realmente o que fazer, outras era para descarga dos traumas dela, como já disse muitas vezes fomos criados por pessoas doente que foram criadas por pessoas doentes que foram ……………………

Creio que já é mais que tempo de parar esse ciclo, como todas as doenças ou vicio, o primeiro passo e reconhecer que o problema existe, que a nossa sociedade é fruto das crianças que nos deixam ser, não estão a aparecer mestres idosos e sábios para orientar, o que está a aparecer são crianças “diferentes” dá que pensar, não dá? (fico por aqui)

Fiquem bem

Anónimo disse...

Concordo contigo, resta saber o que vai dar estas mudanças, as coisas dêem as voltas que derem voltam ao mesmo sitio e desde há séculos que o mundo relacional familiar é o mesmo. Basta ler um pouco para trás e observamos que as questões eram sempre as mesmas. Experiências e ideias originais para ver se acertavam num modelo novo de ser humano mais humano. Creio eu que a sociedade já está mais que informada que este problema existe, só que continua dando exemplos pouco edificantes para as gerações seguintes. Veremos pois o que estas crianças diferentes trazem para as suas gerações vindouras. Eu não consigo ver soluções, só vejo que andamos em círculos, ao chegar ao fim, começamos de novo.

Abraços

Anónimo disse...

Ainda quero acrescentar uma coisa, o amor, o afecto, a tranquilidade sempre foram salutares para o desenvolvimento de qualquer ser humano, mas na falta dele, porque as ideias e as teorias são uma coisa, e a prática e a realidade é outra. Agora desculpabilizamos os pais,eram doentes, depois desculpabilizamos os filhos, foram criados por uma sociedade doente, na prática estamos desresponsabilizando-nos e arranjando novos bodes expiatórios,como era mo principio, a culpa do Adão ter comido a maçã foi da Eva, a culpa da Eva ter comido a maçã foi da serpente, e que mais? Andamos em círculos,ou estou confundida?
Abraços

Anónimo disse...

Não há pessoas perfeitas nem sem conflitos interiores, há sim os que aprendem a lidar com as suas frustrações e escolhem o caminho mais difícil, fazer com que as pedras dêem leite, isso quanto a mim é responsabilizar-se. Mas eu cada vez me sinto mais ignorante(risos). Falta alguma coisa aqui, creio eu, mais formação, mais necessidades básicas asseguradas e sobretudo mais humildade na sabedoria da sociedade, porque tudo é cíclico e apenas há pouco mais de cinquenta anos terminou a segunda guerra mundial. Nas sociedades fartas discutimos estas coisas, mas nas outras,naquelas em que falta tudo, deixamos os bebés chorarem nos berços porque temos que lhe assegurar a subsistência e ensina-los a lidar com as frustrações e a solidão. Tudo está certo, importa contar o amor que recebemos, não o que nos faltou.
Boa noite.Fica bem

Carteiro disse...

Pois é, e continuaremos a andar em círculos enquanto não se “gritar” BASTA e iniciar algo de novo, partir sempre do principio que estamos errados e ir aprendendo a limpar os conceitos, responder que para mim é assim (em vez de é assim), mas certamente existe outras formas de ……………….

Não se trata de desresponsabilização mas sim de consciencialização.

Pois, será, que um bebé com 6 meses aprende a lidar com as frustrações por ficar a choras, ou simplesmente aprende a não se manifestar, a ser falso passivo, isto é, a não reacção para os que “achar” superiores e a reacção exagerada para com os que “achar” inferiores, associado a uma irritação crónica e uma constante critica, obvio que isto não é taxativo.
Também devemos falar da sociedade em que vivemos, das outras sociedades pouco conhecemos profundamente, obvio que é mais “fácil” ser espiritual com a barriga cheia.

Fiquem bem

Anónimo disse...

Como tão bem disseste há uns tempos atrás, a mensagem muitas vezes não é entendida, mas não importa como é entendida, isso não é da nossa responsabilidade, a responsabilidade é ela ser bem emitida.
Quando falo expresso apenas o meu ponto de vista pessoal. Não gosto de ver um bébé de 6 meses a chorar no berço, mas entendo que a vida nem sempre possibilita que possamos pegá-los e dar-lhe o calor que eles necessitam. Só quem não assistiu e viveu passo a passo com um bébé, é que não se apercebe que esses momentos em que os deixamos chorar, sabendo que estão bem, são tão necessários para nós, como para eles. A diferença dos tempos modernos, é que nos infantários modernos deixam-nos chorar mais friamente, eu assisti a isso,e esses são os nossos jovens adolescentes de agora que tanto a sociedade critica. Falo da sociedade em que vivemos, mas questiono o quanto é superfluo as coisas com que nos detemos,em relação a tantas coisas. Certamente, penso eu, se nos ocupassemos mais em dar bons exemplos, os nossos bébés não se sentiriam frustrados por estar a chorar no berço com a barriguinha cheia e a fralda mudada. Mas enfim, é apenas uma opinião minha, Tenho têndência a desculpabilizar os que não sabem, não querem, não podem fazer melhor e a assumir as responsabilidades pela minha vida independentemente dos meus traumas mais ou menos conflitantes.

Um abraço da tua amiga.

Anónimo disse...

O que são crianças "diferentes"?

Carteiro disse...

Olá

Bem, creio que o que disse foi que muitas vezes existe uma diferença entre o que é emitido e o que é recebido.

Como creio que sabes, a minha opinião não é que as pessoas não me entendem, sou eu que não me faço entender.

Basicamente o meu ponto de vista é que fomos ou somos maus pais, sem contexto culpabilizante, a partir daí é fazermos por melhorar, claro que para isso é necessário ter humildade para reconhecer tal, o que é difícil e dói.

Crianças “diferentes”, bem, creio que primeiro (isto num formato de massas) foram os sementes de estrelas (nascidos por volta de 1940/60), os últimos foram os índigos e cristal, basta fazer uma pequena busca na net.

Fiquem bem